1ª parte - Friedrich Fröbel (1782–1852)

Esta história começa em Oberweißbach, uma pequena cidade alemã no distrito de Turíngia, Alemanha, onde, no dia 21 de Abril de 1782, nasce Friedrich Wilhelm August Fröbel, sexto filho do pastor Johann Jakob Fröbel.

No verão de 1797, com 15 anos de idade, Friedrich Fröbel muda-se para Hirschberg, uma pequena cidade na fronteira com a Baviera, onde aprende as artes da gestão florestal, da agrimensura, juntamente com a geometria.
Já com algumas competências e conhecimentos na área do desenho e do cálculo, em 1804, dois anos depois da morte do pai, Friedrich decide tornar-se num arquitecto e, com este designo, se inscreve no curso de arquitectura em Frankfurt. Durante os estudos de arquitectura um professor de desenho, que devia ter algum bom senso, convence Friedrich a mudar para a área do ensino (apesar de ter sido breve, a passagem pela arquitectura, juntamente com as experiências anteriores, deixará no jovem Fröbel a sensibilidade pela composição geométrica e pelo desenho que o ajudarão, mais de vinte anos depois, a criar os seus famosos brinquedos).

Decidido a passar pelo ensino, Fröbel vai para Yverdon-les-Bains, Suíça onde se encontra com uma das figuras mais marcantes da sua formação: o pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi. A instituição de Pestalozzi era, para a altura, extremamente inovativa; baseava-se no princípio de que todas as faculdades do homem se encontram em estado embrionário nas crianças. Daí a importância de acompanhar, estimular e conduzir, desde a mais tenra idade, o desenvolvimento das três principais vertentes do homem: a do coração (princípio e origem da religião e da fé), a da arte (que reside na base da técnica e do trabalho) e a da mente (onde se cultiva o conhecimento e o saber).

Após a experiência com Pestalozzi Fröbel, entre 1810 e 1816, volta a estudar, desta vez mineralogia (donde tirará alguns princípios que estarão na base das suas teorias pedagógicas) e, mais tarde, se alista com os fuzileiros do exército prussiano contra Napoleão. Em 1816 funda o Instituto Universal Alemão de Educação em Keilhau, que será, em 1921, objecto do ensaio “Princípios, fins e vida interna do Instituto Universal Alemão de Educação em Keilhau”. Em 1826 publica o seu primeiro e mais conhecido livro, A educação do homem, em que transparecem as influência de Pestalozzi, mas também da filosofia idealista de Schelling (1775 – 1854) e do Romantismo alemão de Novalis (1772 – 1802).

Em 1837, depois de um breve estadia em Berlim, Fröbel muda-se para Blankenburg, Thuringia, continuando a trabalhar na educação primária das crianças. Mas será em 1840, juntamente com Wilhelm Middendorf e Heinrich Langethal, que Fröbel se tornará eternamente famoso e consagrado, quando abre, em Blankenburg, em Turíngia, o primeiro Kindergarten, o jardim-de-infância. No Kindergarten organiza as salas de aulas através de uma divisão de materiais e de acções em 2 categorias: “prendas” (gifts) e “tarefas” (occupations). As prendas eram objectos com formas fixas como cubos ou peças de construção. O propósito destes era aprender o conceito subjacente à representação. As ocupações eram mais livres e consistiam em coisas que as crianças podiam moldar e manipular como argila, areia, esferas ou cordas. Tudo o que era feito tinha um significado simbólico subjacente. Até o momento da limpeza e da arrumação era considerado como, segundo as palavras de Fröbel, “um momento final para a criança lembrar os planos de ordem moral e social de Deus”. Assim foi graças a Fröbel que é universalmente aceite a importância de existir um espaço especial e um tempo e umas ferramentas próprias para que as crianças possam brincar e, desta forma, desenvolver as capacidades humanas. A própria denominação de kindergarten remete para uma ideia de criança como planta em crescimento e dos educadores como jardineiros que devem tomar conta deste crescimento.

Fröbel foi o primeiro a compreender a importância dos brinquedos no desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. Ele via a infância como um período da vida particularmente fértil e feliz em que as crianças possuem faculdades especiais, que ele chegou a considerar divinas. A educação não tinha que impor modelos existente mas sim proporcionar a possibilidade do indivíduo se libertar e se tornar autónomo na sua forma de existência. Assim estava convencido que os brinquedos existentes (que na altura eram, de forma geral, reproduções em miniatura do universo dos adultos) desencorajavam a descoberta e a criatividade porque era altamente decorados, realísticos e sem uma lógica matemática ou geométrica.

As prendas de Fröbel foram, sem dúvida, as precursoras de muitos dos brinquedos que ainda hoje se constroem. Todo o material didáctico adoptado pelo método Montessori, por exemplo, ou ainda os blocos Anker (acerca dos quais irei falar um dia destes), são claramente criados com base nos princípios do pedagogo alemão. A ideia subjacente tem como base um sistema aberto que permita um grande número de combinações de forma a deixar a criança a liberdade de criar. Entre as prendas existiam esferas coloridas, formas geométricas em madeira, cubos divididos em várias figuras geométricas, além de vários materiais para pintar, furar ou cortar o papel.

Mas o que era mais inovador era a ideia, de raiz claramente romântica, de que a formação da criança era um processo baseado numa descoberta autónoma, sem ter necessariamente que depender de modelos ou paradigmas comportamentais exteriores. O mesmo princípio que esteve subjacente, mais tarde, a muitos cursos propedêuticos no âmbito do ensino das artes como foi, por exemplo, o da Bauhaus.
Os brinquedos eram ferramentas educativas caracterizadas por um baixo nível de pré-combinação mas por um elevado nível de pré-determinação formal e dimensional. Por outras palavras as prendas de Fröbel permitiam, através da sua combinação, construir um número infinito de formas, todas elas de características geométricas rigorosamente controladas e determinadas. Isso permitia à criança desenvolver uma grande capacidade compositiva uma vez que manipulava elementos que possuíam relações dimensionais certas, nas três dimensões. Além disso o estudo das relações dimensionais entre os elementos permitia uma leitura geométrica dos volumes ajudando a aprendizagem da matemática (por exemplo o cubo dividido em oito partes ou o cubo dividido em cubos e prismas).

No dia 21 de Junho de 1852, após breve doença, Friedrich Wilhelm August Fröbel morre.

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